O post de hoje é bem direcionado. Trata-se de uma carta do Laboratório de Neuropsicologia Clínica, setor de Neurociências, da Universidade Federal Fluminense. A carta foi elaborada pela Tourette Syndrome Association. Na verdade, trata-se de um folheto intitulado “Na Educator a Guide to Tourette Syndrome” , traduzido por Mauro Fernando Cardoso Lins (Acadêmico de Medicina da UFF e Bolsista de Iniciação científica do CNPq) e ao qual estou chamando de carta pra nós professores. Este material foi a mim apresentado pelo Fred, de quem falei nos posts anteriores e que é pai de uma criança com ST.
Por se tratar de um texto longo, preferi, nesse espaço, condessar as informações e ilustrá-las a fim de que a leitura não termine sendo cansativa. Seu conteúdo será divido em três posts diferentes, esse e mais outros dois. Porém, aos que desejarem, a carta encontra-se, na íntegra, no site da Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo (ASTOC).
Espero que esse texto chegue ao maior número de escolas, de educadores, de pais, de alunos e alunas que ainda enxergam os tiques como simples manias ou comportamentos bizarros que não cabem em lugares públicos. Boa leitura!
"Senhor
Professor:
É possível
que você nunca tenha ouvido falar em Síndrome de Tourette.
Entretanto,
esta síndrome engloba uma série de sintomas que podem afetar consideravelmente
o desempenho de uma criança na escola, tanto em termos acadêmicos quanto em
nível de comportamento. Portanto, torna-se importante que você saiba um pouco
sobre o problema. A sua motivação em tomar conhecimento da Síndrome de Tourette
através deste folheto já representa um grande passo no objetivo de ajudar ao
máximo a criança portadora desta síndrome. Os pais, a criança, os profissionais
médicos e para-médicos e, especialmente, os professores, todos trabalhando em
equipe, podem assegurar que as crianças com este distúrbio atinjam todo o seu
potencial.
Este
folheto é organizado em três seções. A primeira descreve a Síndrome de Tourette
– suas causas, sintomas e tratamentos. Na segunda parte, sugestões são
oferecidas para professores e demais profissionais da escola (orientadores,
psicólogos, por exemplo) compreenderem as necessidades específicas algumas
perguntas, com sugestões de respostas, comumente colocadas por professores que
lidam com crianças com a Síndrome de Tourette e duas famílias.
UMA
SITUAÇÃO POSSÍVEL
Uma criança
em sua classe causa perplexidade. Ela é inteligente, amigável, ansiosa em
agradar, geralmente bem comportada e educada. Entretanto, sem nenhum motivo
aparente, ela perturba a aula com roncos desagradáveis. Ela também pisca os
olhos constantemente, apesar do médico de olhos afirmar que ela não precisa de
óculos, e também persiste em se mexer muito no assento. Você já falou com a
criança e com os pais dela sobre este comportamento, porém ela continua a
apresentá-lo. Você para e pensa: Será que ela está chamando a atenção porque
seus pais se separaram há pouco tempo? Será que está muito ansiosa em relação a
alguma coisa? Ou será que apresenta algum problema emocional que não parece
óbvio? Finalmente, algum médico sugere que esta criança possa ter a Síndrome de
Tourette."
Você pode conhecer mais sobre o que é a Síndrome de Tourette lendo o post Síndrome de Tourette, você sabe o que é isso? ou acessando a esta carta da ASTOC na íntegra.
"O QUE CAUSA
A SINDROME DE TOURETTE?
Até
recentemente, as pessoas com a ST e suas famílias sofriam muito já que a razão
do seu comportamento estranho não era compreendida pela comunidade médica. A
maioria recebia um diagnóstico incorreto e tratamentos inapropriados, e os
médicos diziam que elas tinham um problema causado por uma variedade de
distúrbio neurológico, com sintomas associados que afetam o comportamento. É
muito bom que os professores conheçam os sintomas deste distúrbio, já que os
educadores frequentemente se encontram na melhor posição para observar o
comportamento de uma criança por períodos de tempo prolongados.
Atualmente
é aceito que a ST, juntamente com alguns problemas associados, é um distúrbio
genético. É comum encontrar um ou mais tiques motores ou comportamentos
associados no distúrbio em membros da família do paciente. Os pais destas
crianças freqüentemente têm sentimentos de culpa por terem transmitido este
problema a seus filhos, como ocorre com todos os distúrbios geneticamente
transmitidos. É importante ser sensível a isso ao conversar com os pais."
Farei uma pausa na leitura da cartilha da ASTOC, por considerar importante também apresentar a fala de alguns pais e mães sobre suas impressões acerca da ST. Abaixo, alguns diálogos e depoimentos. Só lembrando que não utilizarei os nomes, mas suas iniciais ou nomes fictícios, salvo quando se tratar do nosso amigo Fred que já autorizou sua presença e a de seu filho aqui no nosso blog:
Um papo sobre a dificuldade de aprendizagens das crianças com ST e sua inteligência:
GC (mãe de uma criança com ST): O neuropediatra para o qual levei perguntou se ela tinha dificuldade de aprendizado. Quando comecei a ler sobre a síndrome sempre tinha algo falando da dificuldade de leitura para quem tem a ST. Mas agora também "vejo" falar muito que quem tem a ST é muito inteligente.
Fred: Inteligência sem X inteligência com.... melhor com... melhor sem... No entanto, somos pais premiados por nosso Deus e cuidamos deles feito leões e leoas. A dificuldade existe sim, e muito, porém, só quando encontramos o caminho de centralizar o mal é que descobrimos o quanto eles tem esse diferencial.
GC: Verdade. A leitura é considerada um forte aliado como uma terapia de melhora dos tiques, insistam com seus filhos.
Voltemos à cartilha:
TRATAMENTO
DA SÍNDROME DE TOURETTE
Quando os
tiques são discretos, a criança pode ser diagnosticada e não necessitar de
tratamento médico. A aceitação do fato de que os sintomas e comportamentos
estão fora do controle da criança e não são propositais, e algumas vezes
suficientes para permitir que a criança funcione confortavelmente na escola e
em casa. Também pode ser útil informar aos pais e aos colegas de turma sobre a
ST, a fim de que eles possam entender o motivo dos tiques.
Em alguns casos,
entretanto, os tiques podem incomodar tanto a criança a ponto de tornar
aconselhável o tratamento médico. Infelizmente não existe uma “pílula mágica”
capaz, ao mesmo tempo, de abolir os sintomas e não apresentar efeitos
colaterais prejudiciais à criança. Muitas das medicações utilizadas atualmente
podem apresentar sérios efeitos colaterais, sendo mais comum ganho de peso,
sonolência e “lentidão de raciocínio”.
Além destes, também pode ocorrer
inquietude, sintomas depressivos, fobia à escola ou até mesmo reações alérgicas
graves. Assim sendo, as medicações capazes de ajudar também apresentam o
potencial de tornar a criança sonolenta ou menos apta a se concentrar e
aprender na escola. As medicações, embora reduzam os sintomas, raramente os
eliminam por completo. Portanto, cabem os pais e médicos decidirem se os
benefícios da medicação superam os efeitos indesejáveis. A informação sobre o
funcionamento da criança no dia-a-dia na sala de aula é fundamental para este
processo de decisão, sobre a necessidade de medicação.
Pergunta: Onde
posso conseguir mais informações sobre a ST?
Resposta: Escreva
para:
Prof. Dr.
Gilberto Ne Ottoni de Brito
Laboratório
de Neuropsicologia Clínica
Setor de
Neurociências
Instituto
Biomédico – UFF
Rua:
Hernani Mello, 101
Niterói, RJ
CEP:
22401-000"
No próximo post, os distúrbios comuns aos portadores da ST e que muito podem representar um empecilho para o processo de aprendizagem da criança com esta condição.
Você também pode ler mais sobre o assunto. Basta um clique:
Até a próximo!
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