sábado, 1 de agosto de 2015

Alunos com Síndrome de Tourret na sala de aula: como lidar com a questão?


Como falei no último post, não existe uma criança “típica” com Síndrome de Tourette. Suas singularidades são tão fortes como qualquer outra criança. A grande diferença, para esta criança, quando o assunto é escola, é o como os profissionais de educação lidam com a questão, enxerga essa criança e a própria síndrome. Ainda dando prosseguimento às orientações da cartilha da ASTOC, reservarei esse espaço para trazer algumas sugestões de como gerenciar o aluno ou aluna com ST na sala de aula. Dicas bem interessantes para educadores e mais depoimentos

Antes de trazer o que a cartilha apresenta, é necessário enfatizar a importância de os responsáveis pela criança não esconder dos professores e coordenação da escola o problema. Quanto mais informação, mais seguros esses professores se sentirão e, consequentemente, a própria criança ou adolescente. É preciso contar do que se trata e dar dicas de como lidar com situações como tiques motores, agonias, tiques vocálicos etc. Interessante também é deixar claro pra criança que os professores sabem da questão e que pode contar com sua colaboração.


GERENCIAMENTO DO ALUNO COM A SINDROME DE TOURETTE NA SALA DE AULA

De acordo com a cartilha, para muitos alunos, o único aspecto da ST a se tornar evidente na sala de aula são os tiques. A reação do professor a estes cacoetes se reveste de uma grande importância. "O professor e outros membros da equipe pedagógica são os adultos mais frequentemente envolvidos com a vida de um aluno com a ST. Este envolvimento são só confere uma séria responsabilidade como também uma grande oportunidade para exercer um impacto positivo e duradouro no ajustamento da criança com a ST e na sua aceitação pelos colegas de turma."


Saber como lidar com o problema é fundamental 


DICAS PARA A SALA DE AULA: com a palavra a cartilha:

  • Em alguns casos, os cacoetes e ruídos podem atrapalhar a aula. É importante lembrar que eles ocorrem involuntariamente. Não haja com raiva! Isso pode exigir paciência de sua parte, mas repreender o aluno com a ST é como repreender uma criança com paralisia cerebral por ser desajeitada. 

  • A criança com a ST que é chamada atenção devido aos seus sintomas torna-se muitas vezes hostil em relação à autoridade e fica receosa em relação à escola. Além disso, você estará servindo de modelo para a reação das outras crianças da turma. Se o professor não for tolerante, os outros na sala sentirão liberdade para ridicularizar a criança com a ST. Os professores são modelos para os alunos. Portanto, uma atitude positiva e a aceitação dessas crianças são fundamentais para que elas se adaptem ao grupo.

  • Dê à criança oportunidades para pequenos intervalos fora da sala de aula. Um lugar reservado como a sala do médico ou da orientadora é adequado para dar vazão aos tiques. Alguns alunos com a ST querem, e conseguem, suprimir seus tiques durante um curto tempo, porém há necessidade de descarregá-los devido a um aumento da tensão emocional. Um intervalo em um lugar reservado, a fim de relaxar e liberar os tiques, pode muitas vezes reduzir os sintomas na sala de aula. Estes pequenos intervalos podem aumentar a capacidade de concentração da criança, já que ela não estará usando toda a sua energia na supressão dos tiques.

  • Permita, se necessário, que o aluno com a ST faça provas em um local reservado, para que não haja gasto de energia emocional na contenção dos tiques.

  • Trabalhe com outros alunos da turma e da escola a fim de ajudá-los a entender os tiques e a reduzir as implicâncias e ridicularizações.

  • Caso os cacoetes de uma criança se tornem muito incômodos, evite temporariamente que a criança se dirija em voz alta para a turma. O aluno poderia gravar exercícios orais de forma que ele pudesse ser avaliado sem o “stress” de ficar diante da turma.

  • Você deve ter em mente que o aluno com a ST está tão frustrado quanto você a respeito da natureza incômoda dos tiques. O professor, se tornando um aliado desta criança, e ajudando-a a lidar com este distúrbio, juntamente com a família e outros profissionais, pode tornar a vida acadêmica da criança coma ST uma experiência enriquecedora.

Como se percebe, o papel e a sensibilidade do profissional em sala de aula é de fundamental importância, a fim de que a criança com ST não apenas se sinta como as demais, como também possa corresponder com o que é trabalhado em sala de aula. Isso, no seu tempo. 


O apoio dos colegas é muito importante

É preciso lembrar que algumas medicações para ST deixam as crianças,algumas vezes, sonolentas ou menos ativas que o normal; crianças com ST podem apresentar, como vimos em post anterior, quadro de hiperatividade ou déficit de atenção. Enfim, o olhar desse professor e professora precisa realmente ser diferenciado.

Abaixo, o depoimento de pais, mães e portadores sobre seus filhos e sobre a própria síndrome. Só lembrando, mais uma vez, que os nomes são fictícios. Tenho a autorização somente para usar o nome verdadeiro de um pai de criança com ST, o senhor Fred, e o filho deste, Derick:

JB: "Meu filho hoje está bem melhor... Poucos tiques...Dorme bem. Só a medicação que eu acho forte demais".

Sim, gente, dormir, muitas vezes, é um momento angustiante para a pessoa com ST. Principalmente, quando estão agitadas. É preciso paciência e sabedoria para conseguir, finalmente, deixá-las, quando possível, tranquilas e para que possam adormecer. As medicações, em alguns casos, são fortes, podendo também, em muitas situações, atrapalhar até o convívio social. Muitas crianças ficam apáticas, dormem e comem  demais. Porém, como ouvi hoje de uma jovem com ST, "somos dependentes desses remédios. Vivo bem com eles. Sou uma com e outra sem os remédios". Essa jovem faz uso de duas medicações: uma pela manhã, para se manter acordada, com ânimo e acalmar os tiques; e outra à noite para conseguir dormir.

Fred: " Derick saiu de uma fase tensa na escola.  Derick tem o apoio da escola. Ele só faz as avaliações dele separado dos outros alunos.  Opção da escola"

Particularmente, acho interessante que a criança seja ouvida em relação a decisões como esta. Derick, apesar de criança, demonstra uma maturidade incrível para lidar com essa questão. Acredito que se ele não se sentisse bem fazendo as avaliativas em separado já teria manifestado. Parabéns, Fred, pelo modo como direciona seu filhote! Creio que o tempo dedicado a esta avaliativa também deveria ser diferenciado, uma vez que, para muitos desses alunos, leituras extensas é uma via crucis.

GC: "Quando descobri que era a Síndrome de Tourette em minha filha fiquei muito angustiada, pensava tanta coisa, mas aí pensei que o primeiro passo era aceitar. Quando as crises diminuem é tudo de bom. Mas esses dias aumentaram, aí percebo que ainda fico muito incomodada. Ela leva tudo numa boa. Diz que os colegas até brincam com ela sobre os tiques e tudo numa boa. Mas fico insegura. Ainda não conversei na escola sobre a ST. O médico deu o diagnóstico mas vou informar a escola depois da revisão" 

Como também já escrevi anteriormente, creio que lidar com a descoberta de que o filho ou filha tem alguma deficiência é sempre vivenciar uma espécie de morte do filho ideal. Angústias, medos e insegurança são uma constante sim. Por isso, a importância dos grupos de apoio, trocas de informação, pesquisa e mais pesquisa sobre o assunto.

No próximo post, ainda bebendo da cartilha da ASTOC, traremos os temas: LIDANDO COM PROBLEMAS DE ESCRITA e LIDANDO COM PROBLEMAS DE ATENÇÃO.


Um comentário:

  1. Sou professora da E.I. e com estás descrições vou observar um aluno que tenho, pois está com este tipo de comportamento. As informações me foram de grande ajuda, vou acompanhá-los no blog..

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