sábado, 9 de maio de 2015

As dores e as delícias de ser mãe



"A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo"

E foi com essa frase que adormeci na noite de ontem. Ela dá início a uma reflexão de Dalai Lama partilhada pela professora, mãe e escritora Carla Borges em um grupo de mães da escola onde estudam as minhas filhas. Essa realmente é uma tarefa não muito fácil para nós que estamos sempre na tentativa de acertar nos cuidados, investimentos (emocional e material), enfim, na criação ou educação de nossos filhos e filhas. Confesso que tenho tentado, mas também tenho falhado nesse quesito. Porém, não acredito que exista outro caminho para que minhas filhas, a Maria Clara e a Maria Eduarda, possam viver nesse mundo de forma exitosa senão por meio da autonomia. 

Sabemos quão importante é proteger nossos filhos e filhas dos inúmeros perigos que os cercam, mas como fazer isso de forma que tal atitude não prejudique-os ao ponto de não saberem lidar com situações difíceis e desafiadoras?


No desenho animado Valente, mãe e filha vivem um conflito: de um lado, a mãe de Merida, com todas as boas intenções de que se alimenta uma mãe quando o assunto é a criação dos filhos, insiste em tentar fazer da menina de cabelos ruivos uma verdadeira princesa. Do outro, porém, temos uma menina que anseia por fazer e viver situações bem diferentes do que espera e permite a rainha sua mãe. 

Esse desenho nos traz tantas outras reflexões, mas uma questão aqui nos interessa em particular:  até que ponto  conseguimos identificar a diferença entre orientação e superproteção? Quantas são as vezes em que me pego fazendo escolhas que já não cabem mais a mim? Dando respostas que a nossas crianças são feitas? Enfim, esse e outros comportamentos realmente não contribuem em nada com o crescimento e formação de nossos filhos. 

São diversos os estudiosos que estão sempre a nos repetir que a falta de independência ou de autonomia podem gerar múltiplos problemas para as nossas crianças. A ansiedade e a insegurança são somente alguns destes. A pediatra Mônica Picchi explica que, ao tomarmos conta da vida de nossos filhos de forma exacerbada, a criança não somente é privada da satisfação de realizar algo por conta própria, como de "perceber as diferenças entre ela e os outros, ela e as situações, ela e os fatos e com isso construir os limites que indicam quem ela é, até onde pode ir e o que precisa saber para lidar com a distância entre o que ela deseja e o que ela pode, entre a fantasia e a realidade".


Quem não se lembra do personagem Nemo que perdeu sua mamãe ainda quando era um "ovinho" e que, criado por um pai superprotetor, acabou tomando decisões erradas para provar que "sabia o que estava fazendo", que "podia ir além do limite imposto". O final feliz do desenho animado foi à custa de muito sofrimento gerado por uma teimosia  plantada por uma criação cercada de medos, controle em excesso, falta de confiança na relação. 
Ufaaa, como dói, muitas vezes, ser mãe....


Mas aprender a controlar menos e orientar mais tem sido um exercício que eu também tenho tentado fazer.

Considero-me uma mãe coruja, mas não desejo que minhas filhas sintam que não têm o controle daquilo que, em sua idade, já podem ter: escolher a roupa que querem vestir, o livro que não querem ler, o filme que desejam assistir, enfim, é preciso, sabiamente, nortear nossos filhos e deixar que eles colaborem com isso.

Não estou aqui a dizer que na minha casa minhas filhas vão ditar as regras. Quem me conhece sabe quão chata sou nesse aspecto: aqui tem hora pra  comer (o que devem comer), estudar, dormir, brincar.... Estou tentando dizer que o caminho é mesmo preparar nossos filhotes para oportunidades que a vida  apresentará para eles, como também deixá-los seguros para a tomada de decisões frente aos riscos, desafios que esta mesma vida prepara para a sua adolescência e adultez.



E, tenhamos a certeza de uma coisa: esse preparo não se refere a municiá-los do saber fazer somente.... Mais que isso....é preciso ensiná-los a SER.

Quão difícil é esse exercício...essa tarefa...Cada uma de nós mães sabe "a dor e a delícia de" sermos o que somos: mulheres apaixonados por nossas crias e uma vontade imensa de conseguirmos o melhor para elas... nos tornarmos, enfim, DESNECESSÁRIAS! 

Feliz dia das mães!

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